quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sprawl II

I need the darkness someone please cut the lights.
Eu sempre tive uma concepção muito definida do que queria pra minha vida. E sabia que não era uma salvação, e muito menos algo pelo qual eu me orgulhasse. Mas, infelizmente, eu vivi tanto tempo debaixo desse pensamento que hoje, me aflinge a ideia de que há outro caminho.
            Ser a primogênita da família é uma responsabilidade e tanto para uma guria tão pequena. É como tentar carregar um mundo, uma geração inteira de filhos homens e ser a única menina, é de fato, intrigante. Tenho de concordar com meus pais que eu sempre dei muitas dores de cabeça à eles e pra começar quando eu ainda nem havia nascido. Foi uma gravidez debilitada ... risco de um aborto espontâneo no terceiro mês, depois no quinto e por fim no sétimo. Durante esse período, minha mãe era obrigada a tomar vários remédios para segurar seu frágil "problema". Quatro anos depois, levei meu pai à loucura e extremo desespero ao atravessar a rua enquanto um caminhão passava. É. Agora imaginem só como meus pais agiram comigo após esse acontecimento ... pois é, foi terrível.
Já bati a cabeça numa pedra e levei 8 pontos. Já caí de cara no chão por achar legal pular do sofá da minha vó. Já levei várias boladas na cara que quebravam meus óculos. Mas essa dor não se compara à dor que eu comecei a sentir quando fiquei mais velha. Dores físicas passam tão rápido. Ouvir algo que te magoa e de pessoas muito próximas, vulgo seus pais, ou mais precisamente, seu pai, não é o grande sonho de cada criança.

            A cada dia eu acordava na esperança de "encontrar força para ignorar tudo o que me afetava" mas eu, por infelicidade, dava atenção à isso e o que ganhava ? Mágoa. Difícil ser uma menina de 13 anos. Agradeço por minha memória ter pouquíssimas lembranças da minha adolescência. Não foi nada agradável. Eu era infeliz com a vida, aparência, tinha poucos amigos, me cobrava demais pra ser a melhor mas esquecia de uma coisa, a principal. Contudo, com o tempo fui percebendo que o que eu queria para mim era completamente banal e me aceitei. Aceitei a menina que eu via refletida no espelho. Nessa época, foi quando aprendi a viver os melhores momentos da minha vida. Não pensava em meninos, em namorar, em gastar dinheiro à toa. Eu queria ter lembranças o suficiente para dizer que eu fui feliz. Fernando, te devo tanta coisa ... à Angelina também.

            Sabe quando você prefere ser inconstante ? Acordar de manhã sem saber o que vai fazer no dia inteiro e ir descobrindo aonde quer ir conforme as horas passam. Sem ninguém pra lhe cobrar, pra mandar-te fazer coisas das quais não vê sentido. Mas ter alguém ali, contigo, que te ouve e é ouvido, que te ajuda e que aprendeu a te amar e a te respeitar do seu jeito. Você leva lá suas bronquinhas, mas entende o que elas significam: preocupação. Sente que ela é diferente daquela bronca seguida de um castigo interminável que leva dos seus pais. Eu com quase 20 anos ainda tenho que ouvir uns "vou te colocar de castigo, menina!" de vez em quando, mas ... aprendi a ver essa situação como algo engraçado. Sou uma criança perto deles e é assim que eles ainda me vêem, então não posso cobrar uma postura diferente daquela que eu espero deles se eu não ajo conforme a filosofia que eles pregam, certo ? Errado. Tantas vezes eu já tentei, mas de nada adiantou e agora me vejo dentro de uma casa com pais que não decidem entre um divórcio e salvar o casamento. E me pergunto: como enfrentar sem me afetar ? Infelizmente eu me apeguei à eles de uma maneira que eles não percebem, não sou aquela filha que liga a cada hora pra mãe perguntando como ela está, o que está fazendo, se já almoçou, se está com dor. Sou aquela que parece que está completamente desinteressada, mas que os defende com unhas, dentes e corpo se for preciso. Deixo-os livre para voltarem à mim quando quiserem, mas eles são assim comigo ? Não.

            Meu único desejo é ser, viver e agir livremente e parar de ter crises de stress e descontá-las em quem não teve culpa alguma.

Um comentário:

  1. A Adolescência é uma fase terrível mesmo, rs.
    É a fase com a qual estamos tomando consciência de um mundo caótico e instável ainda com o olhar de uma criança !
    Logo, com o tempo, vamos nos adaptando a claridade desse novo mundo, com a qual não estávamos acostumados por outrora estar envolto pela caverna da inocência !

    Quanto a sua relação com os pais, é normal, eu amo meus pais ! Mas nunca disse que os amos, nunca dei um abraço neles bem apertados, mas isso pq eles são secos assim nunca deram abertura... mas isso não significa que sejamos péssimo filhos, cada um demonstra o amor que tem da forma que pode... O meu pai só fez besteira na vida dele, e as coisas boas que ele faz nem se compara com as coisas boas que os outros pais fazem, mas eu sei que vindo dele, é o melhor que ele pode dar... para quem não o conhece, diria que ele é um péssimo pai, e me aconselharia a odia-lo... mas não consigo, eu o amo da forma que ele é :)

    Assim como vc ama seus pais da forma que eles são, e eles te amam da forma que vc é !

    Não existe a maneira correta de amar ! amar nós sentimos, não fazemos...

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