terça-feira, 7 de junho de 2011

Knockin'on heaven's door

Furiosa com o que eu tinha feito, me amaldiçoei por ter acordado.

- "COMO ? Por pouco eu o via ! Por muito pouco ! Laura, sua inútil ! E agora, como voltar a ter o mesmo sonho ?"

Havia um copo d'água que minha mãe sempre deixava no meu criado mudo quando me dava boa noite. Tomei-o de uma vez. Fechei os olhos e mentalizei "quero voltar àquele sonho". Apaguei o abajur e tornei a deitar novamente. O impecilho agora era os meus olhos que não queriam fechar. Respirei fundo uma, duas, três ... quatro vezes. Forcei-os a fechar de novo. Perdi a noção do tempo, e nada deu certo. Sento-me na cama, frustrada. Olho para um ponto qualquer no quarto e vejo um fecho de luz saindo da fenda da porta. Aquilo me intriga profundamente.

- "Não é possível que eu tenha dormido tanto que já amanheceu e eu perdi a hora !?"

Toquei na porta e ela se desmaterializou. Super-poderes não eram algo que eu queria no momento, se eu os tivesse ganho há uns, bom, 15 anos atrás, era uma coisa, mas agora ... poxa, eu queria meu sonho de volta, queria encontrar meu anjo, queria vê-lo e tocar sua mão novamente. Fechei os olhos e pensei no sonho, nos elementos que o compunham, já que agora eu tinha super-poderes, seria bom se eles me provassem que existiam e me transportassem ao meu paraíso. Minutos se passaram e uma mão me tocou. Abri meus olhos e vi meu anjo ali, do meu lado e falando para eu me apressar pois o pôr-do-sol estava a caminho.

- "Vamos Laura, vamos! Corra mais rápido sua preguiçosa !" e soltou uma risada gostosa e sabia que se me provocasse a correr, eu o faria, eu o obedeceria.

O vento estava veloz. Meus cabelos estavam soltos e atrapalhando minha visão então, avisei que ia parar para prender o cabelo mas ele não ouviu ou se ouviu, continuou a correr. Após prender quem me atrapalhava, voltei à corrida e o perdi de vista. Estava num terreno grande, com gramas verdes e flores bem pequenas, algumas árvores balançando conforme o vento. Olhei por todos os lados, o procurava com quem procura água no deserto: desesperadamente.

- "Onde está ? Volte !" gritei e ouvi apenas minha voz ecoando os limites.

Nada dele. Chamei mais cinco vezes e sem sucesso algum, desisti. O que tinha acontecido com ele ? Eu não sabia de mais nada a partir daquele momento. Tudo estava frio, mórbido, estranho e calmo demais pra significar algo bom. Ouço vozes mas não consigo identificá-las e são similares a avisos. Como se já não bastasse, meu anjo havia sumido por cerca de 40 minutos já e não havia menções se voltaria ou não. Uma hora, duas horas ... duas horas e quarenta e cinco minutos depois uma leve brisa passa entre meus cabelos e me denunciam uma voz. Aquela voz.

- "Desculpe a demora Laura, eu precisava que esperasse esse tempo."

Olho para meu lado direito e lá está ele, com seu manto branco e o rosto ainda coberto pelo capuz da mesma cor ... mas havia algo diferente, dava pra sentir que sim. Sua voz estava mais alta que o normal e mais limpa. Estendi minha mão para que pudesse tocar-lhe o rosto, mas ele amedrontamente se recuou e perdeu-se em pensamentos. Uns minutos depois, fez menção em falar alguma coisa, quando percebeu que eu estava atenta, desistiu. Eu estava ligeiramente longe dele quando me toquei da distância e logo me pus ao seu lado e pousei a cabeça em seu ombro.

- "Teme a mim ?"
- "À você ? Não ! Temo suas escolhas."
- "Minhas escolhas ?"
- "Sim. Eu entendo muita coisa do que passa Laura, mas sinceramente, suas escolhas me afastam de você."

Seu rosto pousou sobre meus cabelos e um beijo eu ganhei. Apenas suas mãos estavam frias, mas seu rosto, estava quente. Logo percebi que ele não era um anjo, mas uma pessoa da qual eu consegui trazer pro meu sonho e passar um tempo com ela.

- "Por favor, tire o capuz Augusto. Não me importa se for sonho ou realidade, mas estamos juntos aqui e agora. Se não quiser olhar para mim, aconselho que feche os olhos, mas deixe-me te olhar um pouco. Faz muito tempo que não vejo tanta sinceridade e afeto num rosto só."

Ao terminar de falar, levei minhas mãos ao seu rosto e sabendo que poderia travar uma guerra, obedeci meus impulsos e tirei aquele capuz. Para minha surpresa e afirmação, era Augusto o anjo branco dos meus sonhos. Afirmação porque nós dois sabemos o quão forte conseguimos ser quando queremos sentir a presença do outro que até os sonhos parecem muito realidade. Já surpresa, porque ele estava da mesma maneira como o deixei, não havia mudado nada, principalmente em seus olhos e suas mãos. Nos fitamos por um tempo. Seus olhos me olhavam tão profundamente que não pude deixar de me encabular e cortar aquela linha.

- "Sempre faz isso não é ? Fica com vergonha e abaixa a cabeça ... dá um sorriso tímido e depois me olha pra ver minha reação."
- "Desculpe. Seus olhos tem um dom que nunca encontrei em outros."
- "Dom ?"
- "Sim ... eles conseguem enxergar através de mim. Conseguem me dar, com um simples olhar, aquilo pelo qual eu procuro há muito tempo."
- "E o que procura ?"

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